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"THE GODFATHER I (1972)"
Duração: 175'
Recomendação: 4/4
"The Godfather" é o mais influente filme sobre crime organizado (especialmente da Máfia - nome nunca usado no roteiro) dos últimos 35+ anos e provavelmente de todos os tempos. Poucos filmes criaram elementos tão reconhecíveis na cultura popular e foram tão citados, imitados, copiados e parodiados desde então, quanto este. Sua influência vai desde pérolas de diálogo (como "eu vou fazer um proposta que ele não poderá recusar") até os traços físicos dos atores coadjuvantes (tipos de corpo e de faces). Mesmo pessoas que nunca viram tal filme, conseguem identificar claramente múltiplos elementos originários dele. Ele é TÃO influente assim.
Deixando a sua história completamente contida no universo da "Máfia" e nos fazendo julgar todos os personagens nos termos de tal universo, "The Godfather" produz o convite à experiência cinematográfica e possibilita a abstração de idéias tão necessária a um grande épico. Transcendendo qualquer estereótipo de "melodrama sobre imigrantes Italianos", o filme se baseia fortemente em temas atemporais como vingança, lealdade, responsabilidade para com a família, necessidade de auto-afirmação, legado paterno, corrupção pelo poder etc. Sendo uma tragédia épica de proporções Quasi-Shakesperianas. Para completar tal quadro, cada aspecto da produção do filme é (essencialmente) perfeito, nunca deixando fugir o encanto do espectador.
A história é bem conhecida. Don Vito Corleone é o um dos chefes da Máfia de New York e New Jersey. Ele tem cinco filhos: Sonny (brigão e mulherengo), Tom Hagen (filho adotivo, advogado e conselheiro da "Família"), Fredo (simplório e fraco, mas no fundo com bom coração), Connie (única filha, cujo casamento com Carlo abre o filme) e Mike (o caçula). Ele também possui dois sócios de longa data: Clemenza e Tessio. Após a segunda Guerra (1945), as outras "Famílias" da Máfia querem abraçar o tráfico de drogas na região. Quando Don Vito se mostra contrário à idéia, ele sofre um atentado. Quando a vida de seu pai jaz por um fio, Mike decide recorrer a todos os meios necessários para proteger a sua família. Esta é a história das trágicas conseqüências de tal decisão.
"The Godfather" também é famoso por momentos de grande violência. De fato, existem inúmeros momentos extremos neste sentido, os quais são produzidos e inseridos com precisão cirúrgica ao longo do filme (sempre servindo a história e sempre indo direto ao ponto): a cabeça do cavalo de Woltz em sua cama, a morte de Luca Brasi, o atentado a vida de Don Vito, a morte de Paulie, Mike matando McCluskey (um capitão de polícia corrupto) e Sollozzo (um Turco, traficante Internacional de drogas - responsável pelo atentado a vida de Don Vito) no restaurante, Sonny espancando Carlo, a violência doméstica de Connie e Carlo, o fuzilamento de Sonny, a morte de Appolonia, toda a famosa seqüência do batismo (uma obra-prima do Cinema por si só - em que Michael torna-se o "padrinho" em mais de um sentido) e a morte de Carlo. Todos são intensos e breves e todos traduzem um assustador balanço entre ação e reação que serve para guiar a história.
O filme (como já foi dito) é sobre Michael Corleone, personagem que atravessa o caminho de um herói de guerra e caçula da família (namorando para casar a senhorita Kay Adams) que o pai queria poupar da vida de crime, até tomar o lugar do pai, como o novo Don Corleone ao final do filme (uma criatura muito mais brutal do que o pai jamais foi). Assim como de seu personagem, o filme é (em grande parte) de Al Pacino, com uma atuação incrivelmente densa e contida (fãs do ator de anos mais recentes, em que ele freqüentemente "espana cenário para todo lado", tem uma grande dificuldade de reconhecer tal estilo contido como o do ator e mesmo reconhecer o físico de Pacino neste filme). O momento da virada do personagem é na seqüência do hospital em que Mike percebe que se ele não fizer algo e rápido, o seu pai (em coma após o atentado contra a sua vida) vai ser morto. Ele diz então ao velho desacordado: "estou com o senhor agora". Seguindo um caminho sem retorno. Na cena da escadaria, em que fingem ser seguranças de Don Vito para enganar os assassinos enviados para dar cabo do velho, Enzo treme como um louco, enquanto Mike calmamente acende o cigarro do padeiro.
Depois Mike tem o maxilar quebrado por McCluskey, sugerindo sutilmente (aproximando-o fisicamente do seu pai) que ele seria o novo "Don" e mata um capitão de polícia, algo que nunca havia sido feito antes, mesmo apontando uma inteligente manobra de controle de danos usando a imprensa (o "show com os olhos" de Pacino na cena do restaurante, antes de cometer o duplo homicídio é indescritível - É ver pra crer!). Refugiado na Sicília, casa com Appolonia (a ama perdidamente, mas não deixa de amar e pensar em Kay o tempo todo) e tenta fazer o melhor da situação. Mas a morte de seu irmão mais velho Sonny e da sua esposa (a figura mais inocente do filme) tinham que ter uma resposta. Ele não poderia deixar a sua "família" desmoronar (ele acaba se casando com Kay no seu retorno a América).
O curioso é como os elementos de sua vingança se apresentam. O fato de Fredo ter sido maltratado por Moe Greene (elemento que é vendido mais por subtexto do que por qualquer outra coisa) em Vegas aponta para o fim de Moe. Eis que temos a cena em que Mike diz a Fredo para que ele "nunca fique contra os interesses da 'família' de novo", a face impenetrável de Michael (já reconstruída) é um monumento de poder e completamente opaca com relação aos seus planos e pensamentos (como um "Don" deve ser). Barzini é revelado finalmente como o grande vilão (de uma forma com bastante estilo e via subtexto) e tem o seu destino, juntamente com os demais "Dons" que foram coniventes com as suas manobras. Tessio, cada vez mais pressionado, trai Mike. Também recebendo a vingança do novo "Don".
O tratamento da traição de Carlo (plantada sutilmente pelo roteiro) foi o mais representativo quanto à mentalidade da "família". Ele trouxe Carlo para dentro dos negócios para mantê-lo feliz, como se tudo tivesse passado, mesmo concordando em batizar o seu filho (no fundo, obtendo um álibi perfeito) e ao final mata o cunhado e mente fria e descaradamente para a sua irmã e para a sua (segunda) esposa sobre o seu envolvimento em tal morte. Tudo pela "família".
A atuação de Brando é simplesmente mitológica. É um completo mistério como ele consegue falar e ser levado a sério ("dentro" e "fora" do Filme) mesmo com uma prótese dentária que o deixa (literalmente) com a "cara de um buldogue". Sua escolha de interiorizar todo o poder do "Don" é igualmente fantástica. O detalhado gestual do seu personagem é um show à parte de composição, com direito até a um gato que ele achou perdido dentro dos estúdios da Paramount. Sua expressão quando Vito finalmente pede o "tal favor" (que ao contrário do que a cena inicial do filme deixa no ar não é nenhuma maldade) ao agente funerário Bonasera é comovente. A cena da morte do seu personagem (largamente improvisada) é tão bela quanto singela. Brilhante!
Impressionante é a paciência de Coppola em manter um andamento constante e vigoroso e ao mesmo tempo colocar um sem-número de detalhes em cada tomada. O andamento do filme é tão consistente e seguro que ele passa muito rápido, mesmo com quase 3 horas de duração. Isto sem falar na inesquecível fotografia sombria de Gordon Willis (que partiria também para uma bem sucedida parceria com Woody Allen) e na infinitamente tocante trilha de Nino Rota (de vários trabalhos com Felini). A reconstituição de época também é maravilhosa. O elenco é excepcional (especialmente levando em conta o grande número de atores). Ainda que existam problemas isolados (Al Martino é obviamente um deles), raramente o pensamento de que alguém está "atuando" passa pela cabeça do espectador, tendo em Pacino e Brando os seus maiores destaques. As mulheres são intencionalmente escritas de uma maneira unidimensional, como parte do universo retratado. Shire e especialmente Keaton são obviamente capazes de muito mais.
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ELENCO PRINCIPAL:
Marlon Brando .... Don Vito Corleone/Andolini
Al Pacino .... Don Michael 'Mike' Corleone
Diane Keaton .... Kay Adams-Corleone
Richard S. Castellano .... Peter Clemenza
Robert Duvall .... Tom Hagen
James Caan .... Santino 'Sonny' Corleone
Talia Shire .... Constanzia 'Connie' Corleone-Rizzi
Sterling Hayden .... Police Captain McCluskey
John Marley .... Jack Woltz
Richard Conte .... Don Emilio Barzini
Al Lettieri .... Virgil 'The Turk' Sollozzo
Abe Vigoda .... Sal Tessio
Gianni Russo (I) .... Carlo Rizzi
John Cazale .... Frederico 'Fredo/Freddie' Corleone
Rudy Bond .... Ottilio Cuneo
Al Martino .... Johnny Fontane
Morgana King .... Carmella 'Mama' Corleone
Lenny Montana .... Luca Brasi
John Martino (I) .... Paulie Gatto
Salvatore Corsitto .... Bonasera the Undertaker
Richard Bright .... Al Neri
Alex Rocco (I) .... Moe Greene
Tony Giorgio (I) .... Bruno Tattaglia
Vito Scotti .... Nazorine the Baker
Tere Livrano .... Theresa Hagen
Victor Rendina .... Phillip Tattaglia
Jeannie Linero .... Lucy Mancini, Sonny's Mistress
Julie Gregg .... Sandra Corleone
Ardell Sheridan .... Mrs. Clemenza
Simonetta Stefanelli .... Appolonia Vitelli-Corleone
Angelo Infanti .... Fabrizio
Corrado Gaipa .... Don Tommasino
Franco Citti .... Calo, Michael's Bodyguard in Sicily
Saro Urzì .... Signor Vitelli, Apollonia's Father
DIREÇÃO: Francis Ford Coppola
ESCRITO POR: Francis Ford Coppola & Mario Puzo (também autor do livro)
FOTOGRAFIA: Gordon Willis
OBRAS RECOMENDADAS DO DIRETOR: "THE GODFATHER I (1972)", "THE GODFATHER II (1974)", "APOCALYPSE NOW (1979)", "THE CONVERSATION (1974)" E "THE GODFATHER III (1990)".
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