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THE MAN FROM EARTH (2007)
Numa daquelas grandes e curiosas coincidências, recentemente assisti em seqüência aos seguintes segmentos de ficção científica (algo que me inspirou a escrever a presente nota):
i) O especial de natal 2007 da série Doctor Who 2005: Voyage Of The Damned (2007)
ii) O filme para DVD da série Stargate SG1: The Ark Of Truth (2008)
iii) O filme INDEPENDENTE: The Man From Earth (2007)
Devo confessar que os dois primeiros itens me deixaram deveras decepcionado, procurando ocultar com efeitos visuais e tediosas cenas de ação as suas deficiências narrativas e respectivas fracas histórias. Com certeza o item i foi um grande sucesso com (literalmente) metade da Inglaterra ligada em sua primeira exibição e o item ii deve vender bem quando do seu lançamento em março (de 2008) próximo. Felizmente a surpresa do item iii fez toda a experiência fazer sentido e valer a pena em retrospecto.
Recebi o torrone de The Man From Earth de um padeiro amigo meu, após selecioná-lo sem muito pensar de um cardápio SCIFI que trazia em sua capa simplesmente a enigmática sigla IMDB. Após assistí-lo sem muita expectativa (mas com alguma curiosidade), fiquei maravilhado com a história e principalmente com os sentimentos por ela evocados. A familiaridade com dois favoritos atores de Jornada Nas Estrelas presentes na produção (e a citação explícita ao programa quase ao final do filme) foi só o começo (ao menos para mim) do romantismo que envolvia aquilo tudo. A primeira real descoberta foi saber que o texto era de autoria de Jerome Bixby, e terminou de ser escrito (a partir de uma antiga idéia própria dos distantes anos 1960) literalmente as portas da sua morte em abril de 1998 (aos 75 anos de vida). Aos não familiares com o trabalho do autor, aqui cabe uma pequena pausa para apresentar uma singela relação (que de forma alguma se preocupa em ser completa em qualquer sentido) de alguns dos seus trabalhos:
- (1953) It's a Good Life: Um famoso conto de ficção científica e provavelmente o seu trabalho mais reconhecido;
- (1958) It! The Terror from Beyond Space: Bixby screveu o roteiro deste filme que muitos consideram como uma grande influência para o filme Alien de 1979;
- (1959) The Twilight Zone: Rod Serling adaptou It's a Good Life em um episódio homônimo da terceira temporada do programa. O segmento trouxe Bill Mummy (de Lost in Space e Babylon 5) no papel central da história (Anthony Fremont);
- (1966) Star Trek: Escreveu os episódios Mirror, Mirror (talvez o seu trabalho mais conhecido), By Any Other Name, Day Of The Dove e Requiem For Methuselah. Alguns acreditam ainda que It's a Good Life possa ter tido alguma influência no episódio Charlie X;
- (1966) Fantastic Voyage: Escreveu a história original do filme, a qual foi adaptada para a telona e só DEPOIS foi novelizada (via o roteiro filmado) por Isaac Asimov (que fez várias modificações em nome da plausibilidade e da consistência científica).
Como dito acima, Bixby terminou de ditar o roteiro em seu leito de morte para o seu filho, que partiu eventualmente para financiar a produção de um filme baseado na história. O orçamento disponível foi MUITO pequeno, o correspondente a aproximadamente 1/35 do utilizado para a feitura de The Ark Of Truth (só para efeito de comparação). Em uma atitude inusitada, os realizadores chegaram a agradecer as pessoas que fizeram a distribuição (ilegal!) do filme em redes P2P, algo que elevou a visibilidade da produção MUITO além dos seus mais insanos sonhos. O filme se resume a uma longa conversa entre amigos professores universitários em um único cômodo de uma casa e não tem aspirações vanguardistas. Muito pelo contrário, parece mais uma "história perdida" dos clássicos tempos de Zone, Limits e Trek.
O filme é centrado na seguinte pergunta especulativa: "E se... Um exemplar de homem primitivo tivesse sobevivido até os dias de hoje e pudesse seguir ainda além?" Um presente afirma ser (ele próprio) este tal "homem das cavernas" e diz que está de partida para um outro local, identidade e ocupação (como diz ter feito sempre quando o seu não envelhecimento começava a causar suspeitas). A sua fantástica história é discutida com a mente aberta (na maior parte do tempo) por todos e o termo "fascinante" vez após vez teima em vir a mente do espectador. Grande parte de tal narrativa serve de clara e rica metáfora a uma pessoa (re) avaliando a vida em um momento crucial, mesmo na iminência do seu fim. Eis que a descrição do persongem titular eventualmente parece se confudir com um testamento do próprio autor já proximo ao final do filme, onde uma arrepiante revelação de cunho religioso é apresentada e estudada em meio a dor (de alguns) e rejúbilo (de outros) dentre os presentes. O conto termina em uma nota de trágica ironia, que reafirma o que foi dito, logo após a sua negação.
Assistir ao filme não me fez lembrar qual é realmente a razão de ser da boa ficção especulativa, de fato nunca a esqueci. O gratificante foi perceber isto na mente de tantos outros que abraçaram tão modesta produção. Foi incrível (mesmo!) recordar (especialmente do jeito cristalino que esta história me permitiu) de caras tão importantes na forma em que sempre vi o mundo ao longo do meu desenvolvimento enquanto ser humano. Os saudosos "Homens da Terra"... Serling, Stefano, Coon... E Bixby!
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