sexta-feira, 8 de junho de 2007

SNAKES AND ARROWS (2007)

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"Snakes And Arrows (2007)" [***]

Antes de falar sobre o novo álbum do Rush, vamos nos colocar em relação a mítica banda Canadense e a sua discografia.

Nossas três bandas favoritas de rock de todos os tempos: Black Sabbath com Ozzy, Genesis com Peter Gabriel e o Rush produzido por Terry Brown (do RUSH ao SIGNALS).

Mas (diferentemente de muitas outras bandas favoritas em geral), como os adoráveis três patetas (Alex Lifeson, Geddy Lee e Neil Peart) nunca se separaram, sempre mantivemos uma atenção especial a carreira deles, não necessariamente por esperar um novo momento mágico como (por exemplo) escutar o álbum Hemispheres pela primeira vez, mas talvez sim experimentar ao menos uma pequena centelha e uma certeza de que eles ainda estavam vivos e em forma e esperar ver um show deles por aqui. Após ver tal show (aqui mesmo no Rio de Janeiro em 2002) a atitude não mudou muito e aguardamos o próximo (risos). Resumindo: ficamos ligados quase que religiosamente a carreira deles, mas sempre com baixa expectativa quanto ao material novo a partir de certo ponto.

O novo álbum é o melhor desde Signals apenas levando em conta a produção, esquecendo todo o resto... Zapeando o catalogo do Rush na porção aberta entre os dois álbuns (do Signals até o Snakes And Arrows), constatamos via de regra e de maneira consistente espalhados por todo esse período: arranjos horrorosos de teclado (ou algo menos votado fazendo tal papel), trilhas fantasmas de vocais, partes equivocadas com cordas simuladas (ou algo igualmente ruim), pífios efeitos sonoros, crônica má captação da bateria (principalmente), timbres emasculados de guitarra (a infame ALS e além), falta de peso em geral etc. etc. Neste novo álbum simplesmente NÃO TEM NADA DISTO! Parece inacreditável, mas eles levaram 25 ANOS para se dar conta das inúmeras bobagens que fizeram nesse meio tempo quanto a produção principalmente. Mas, antes tarde do que nunca...
 
O nosso "entusiasmo composicional" (que fazendo a média das faixas como descritas a seguir, nem é tão grande assim) pode ser visto abaixo é claro, mas, já sem dúvida nenhuma, o tal "Nick" (o novo e jovem produtor e fã confesso da banda) trouxe literalmente o power trio canadense de volta a vida. Porque o leitor acha que já se fala em outro álbum com ele? Talvez o Snakes And Arrows tenha sido só um teste... Vamos ver o que acontece...

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Impressões das músicas do novo álbum com notas de 0 a 10 (o melhor desde Signals):

Far Cry (07/10) Não é a música mais acessível para um público genérico, ela é sim uma boa maneira de vender o álbum para um público já de fãs do Rush, por ser o que normalmente se espera de uma nova música da banda. Mais do mesmo sim, mas bem feito e os violões e os solos cheios de feedback já se fazem presentes.

(Examinem os elementos vintage do arranjo de bateria de Neil Peart ao longo desta faixa: "chimbal aberto + rim-shot" , "padrão de duas mãos no chimbal" , "padrão de ride com chimbal remoto no contra" e "levada construida a partir de paradidles para o refrão". Mais "vintage professoral" seria impossível!)

Armor & Sword (10/10) A faixa título é o primeiro grande momento do álbum, destaque para Peart que se permite experimentar com o seu pedal duplo agora na criação de levadas e ainda descola um inspirado "Jungle Groove" após a segunda repetição do refrão que revitaliza a música até o seu final.

(A letra é maravilhosa e a frase "No one gets to their heaven without a fight" promete ser a mais presente nas camisetas dos fãs na nova turnê. Grande interpretação de Lee em uma música que melhora a cada audição.)

Workin' Them Angels (07/10) Influência sessentista em uma boa canção, mas dificilmente algo excepcional. Vale mais por acrescentar variedade ao repertório da banda.

(Será essa canção devida ao trabalho anterior de estúdio da banda, o EP Feedback, contendo apenas covers de músicas que influenciaram o início de carreira do Rush lá pelos anos sessenta?)

The Larger Bowl (03/10) Esta também parece meio sessentista e talvez seja o ecletismo que pareceu menos genuíno em todo o álbum (e os arranjos vocais de Lee beiraram REALMENTE o ridículo aqui).

Spindrift (08/10) Hipnótica e atmosférica são as melhores descrições da mais pesada faixa do álbum. Se mantivesse a mesma intensidade o tempo todo (até o final) seria um fácil 10/10.

The Main Monkey Business (10/10) Esta surpreende, pois não é o que se esperaria dela, algo cheio de notas e com um frenesi virtuoso. A faixa é belíssima. Soa mais como um tributo ao progressivo setentista e uma sincera homenagem de Lifeson a (por exemplo) Steve Hackett e Martin Barre (sem contar no riff quase Sabbathiano que entra pela primeira vez em 00:50, é claro). A forma como Peart harmoniza toda a sua bateria para o arranjo, por vezes desligando a esteira da sua caixa para dar uma intenção mais tribal, é absolutamente magistral!

The Way The Wind Blows (10/10) De uma introdução completamente blues (que se segue a um deveras surpreendente prelúdio na bateria) sai a melhor faixa do álbum. Tem de tudo desde um groove muito pesado para os versos e um refrão que fica mais bonito a cada vez que é repetido (o arranjo vai ficando cada vez mais cheio a cada retomada). A marcação de Peart é impressionante sem dar folga em momento algum e o solo de Lifeson é até brincadeira. 10 com louvor!!!

Hope (08/10) Inusitado momento de uma instrumental só com violões em um álbum de estúdio do Rush. E o mais incrível é que funcionou muito bem. Provavelmente por ser o violão tão dominante  ao longo de todo o álbum. Parece ter uma influência Celta filtrada via Jimmy Page por aqui.

(Teria sido mesmo um conselho do David Gilmour do Pink Floyd na época da pré produção do presente álbum?)

Faithless (06/10) Depois de uma introdução surpreendente com Hope, pensamos que a letra de Faithless mereceria uma música melhor. Parece feita de sobras do Vapor Trails (o fraco álbum anterior de músicas inéditas da banda). É até bem tocada, mas a composição é absolutamente medíocre. Devemos admitir que ela já cresceu alguns pontos (e ao vivo pode crescer ainda mais), mas definitivamente não é uma favorita no momento (apesar do solo de Lifeson ser bem legal...) .

Bravest Face (09/10) Letra e música se combinam em fina ironia, no mais bagaceiro momento do álbum. O solo de Lifeson consegue o impossível, bater a sobrenaturalmente "levada" levada (risos) de Peart. E o que foi aquele violão solitário no inicio? Adoramos... Que safadeza gostosa...

Good News First (03/10) Segunda mais fraca do álbum. Começa a parte do verso de uma forma horrorosa, lembrando os piores momentos do Vapor Trails (o groove introdutório parece também chupado do Counterparts por falar nisto) até que um pós-refrão hiper-melódico dá vida a este marasmo, pena que é muito pouco e muito tarde.

Malignant Narcissism (08/10) De longe é a música mais original do álbum (Geddy Lee tocando em um baixo elétrico sem trastes já é histórico por si só), algo que só não leva 10 por ser muito curta, especialmente devido a descartável paródia de YYZ mais para o seu final. Uma versão de uns dez minutos (EXCLUINDO a mencionada paródia ou propondo uma alternativa) desta música seria perfeita como bônus (tirando a lamentável We Hold On do álbum, obviamente) .

We Hold On (01/10) De longe a mais fraca do álbum, deveria ter sido excluída para (talvez) dar lugar a uma versão maior de Malignant Narcissism (nos termos já mencionados). Seu inicio remete a Between Sun & Moon do Counterparts e é apenas o começo da mais pura reciclagem. Peart decepciona especialmente aqui pela total falta de inspiração (tem um particular lick de bumbo duplo que REALMENTE já deu o que tinha que dar e que é repetido diversas vezes nesta faixa infelizmente).
 
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