sexta-feira, 8 de junho de 2007

GROUNDHOG DAY (1993)

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"GROUNDHOG DAY (1993)"

Duração: 101'

Recomendação: 4/4

Phil Connors é apresentador da previsão meteorológica de um canal de TV e visita anualmente uma bizarra festividade na pequena cidade interiorana de Punxatawney. Sua equipe de campo é composta pelo cinegrafista Larry e por sua produtora Rita. Connors é um absoluto egocêntrico e com uma visão extremamente cínica do mundo e de todos, que odeia assistir a cerimônia em que o seu xará, Phil a marmota, faz a sua própria "previsão" sobre uma possível chegada antecipada da primavera. O "Phil de duas patas" grava uma apresentação bem "nas coxas" e faz questão da partida imediata.

Voltando para a sua cidade natal, no furgão de reportagem, os três são surpreendidos por uma nevasca, que contraria completamente a previsão de Connors do dia anterior. Eles têm que voltar a "capital nacional da marmota", mas o jornalista se recolhe cedo, deixando seus dois colegas aproveitando o restante das festividades. Quando ele acorda, as 6:00hs, ao som de Cher no despertador, ele percebe que é o "dia da marmota" DE NOVO! E tal ciclo continua a se repetir, dia após dia, sem que ele possa fazer nada para quebrá-lo (e ele recorre a todo truque possível e imaginável para se safar).

"Groundhog day" é SCIFI e também é uma fábula, mas evita com competência algumas armadilhas dos dois gêneros. Ele não se preocupa (de forma alguma) em explicar (em nenhum grau) o loop temporal em que Phil se vê preso. Perguntas como: "Porque?" "Como?" "O que (ou quem) fez isto?" Ficam no ar para que cada espectador construa a sua própria interpretação da história. Isto leva também a mensagem do filme, que é apresentada de uma forma sutil, gradual e envolvente. E não esfregada nas faces da audiência como muitas vezes ocorre em produções ditas: "família".

Inicialmente ao se ver preso em tal armadilha temporal, percebendo que pode manipular situações e pessoas para conseguir qualquer coisa que deseje e não ter que responder por seus atos no dia seguinte, Phil Connors se diverte em um festival de excessos: sexo, dinheiro, comida, adrenalina etc. Em um dado momento, a tentação é grande demais e ele decide fazer com que Rita se apaixone por ele. De fato ele consegue, mas Rita percebe (de forma intuitiva) que algo está errado e o encontro termina mal (com uma bofetada). Inseguro com o fracasso, ele não consegue mais repetir tal feito. Já perdidamente apaixonado por ela, que ele encontra toda manhã para cobrir a festa (de novo e de novo e de novo). Ele entra em depressão e decide se matar.

(Percebam que 34 "dias da marmota" são mostrados no Filme, mas o número total é indefinido, permitindo que Phil acumule suficiente conhecimento da cidade e das pessoas para fazer literalmente o que quiser.)

(Um ponto interessante é que ele faz exatamente o que uma pessoa de carne e osso faria em tais circunstâncias e não automaticamente assume alguma espécie de "missão divina".)

Connors rapta Phil (a marmota), dando origem a uma hilária perseguição de carros que termina com eles dois mortos. Para tudo recomeçar no dia seguinte as 6:00hs (ele tenta vários suicídios, mas o destaque vai para aquele em que ele se joga de um prédio, uma bela cena sem dúvida, esteticamente e dramaticamente). Ele, com tanto poder e sem poder morrer, começa a se achar uma divindade. Ele abre o jogo com Rita, que acredita nele. Ela acaba por adormecer na cama com ele e Phil diz que ela é a pessoa mais gentil e bondosa que ele já conheceu (em uma cena extremamente tocante e atuada com extrema sinceridade por Murray).

Tudo volta a estaca zero, mas Phil acorda renovado, passa a tratar todos bem, aprende a tocar piano, fazer esculturas de gelo, começa a ajudar e a salvar pessoas e recebe uma tremenda lição de humildade, ao não conseguir salvar a vida de um velho mendigo por mais que tente (mostrando que o seu poder tem limites). Na festa da noite do "dia da marmota", ele toca na banda e tudo que ele fez pela comunidade volta para ele com o carinho de todos os presentes. Rita fica muito impressionada e acaba "comprando" Phil em um "leilão". Eles vão dormir juntos e acordam no dia seguinte ao "dia da marmota". Phil fica muito feliz, mas percebe que nunca mais vai poder deixar aquela cidadezinha que se tornou tão especial para ele. Muito menos o seu amor, Rita.

Connors inicialmente mantém todo o seu cinismo e tenta tirar o melhor proveito da situação e só começa a fraquejar quando a experiência começa a se mostrar absolutamente inexorável e mesmo cruel. Como se dizendo que a única mudança que é realmente verdadeira e permanente em nossas vidas é aquela que se processa no interior de nós e que a falta de fé no mundo é a verdadeira mãe do cinismo (e provavelmente do pequeno envolvimento do povo nas causas sociais também).

Connors não gostava de si próprio e projetava a impressão que não gostava de ninguém por causa disto. Ele odiava a cerimônia com a marmota Phil, pois ela só o lembrava o quanto ele era infeliz em seu trabalho (ele é simplesmente a face da notícia e a marmota é a mascote de uma cerimônia - os óbvios paralelos, incluindo o próprio nome, eram demais para ele). Ele queria adoração e não amor. Ele procurava poder e não esclarecimento. Ele queria reverência e não gentileza. Temos idéias aqui que vão ressonar forte e de forma diferenciada para muita gente, sendo ai onde reside à beleza do filme.

Todas as idéias trazidas à tona pelo Filme são muito singelas, mas funcionam por que elas são apresentadas de uma maneira simples, honesta e contida (contido como é praticamente todo o humor do filme também - um dos principais motivos para o seu sucesso).

Harold Ramis (dublê de roteirista, produtor, diretor e ator - ele é o infame Dr. Egon Spengler dos filmes da série "Ghostbusters" E faz uma ponta como o neurologista que atende Phil Connors aqui) realizou literalmente o "trabalho da sua vida" com este filme. A forma como as múltiplas iterações da experiência de Phil foram apresentadas, tanto em termos do roteiro, quanto em termos da edição final do filme (uma tarefa realmente não trivial), são os seus maiores méritos técnicos. Além disto, o filme é bastante quadrado, mas curiosamente para o seu próprio benefício.

Bill Murray (de "The Royal Tenenbaums (2001)", "Ed Wood (1994) " e "Rushmore (1998)"), Andie MacDowell (de "The Player (1992)" e "Short Cuts (1993)"), Chris Elliott (de "The Abyss (1989)" e "There's Something About Mary (1998)") e Stephen Tobolowsky (de "Memento (2000)" e "The Insider (1999)") são os nomes mais importantes do elenco.

Tobolowsky fica com as partes mais histriônicas do filme, que felizmente são poucas. Elliot não têm muito que fazer, mas é curioso perceber, ao final, como o seu personagem não era o "coitadinho" que a sombra do "velho Phil" parecia dar a entender. Macdowell só precisa da cena inicial em que ela brinca sem jeito com a "tela azul" da previsão meteorológica, para que nós tenhamos certeza do poço de doçura que é a sua personagem. Era disto e somente disto que o filme precisava da atriz. Murray sustenta o filme aparecendo literalmente em cada cena, sem nunca deixar a peteca cair. Ele faz do cinismo de seu personagem algo tangível, mas utiliza subtexto para mostrar que existem motivos para tanto e também para angariar simpatia da audiência desde o inicio (sem falar que o seu "timming" cômico é absolutamente impecável). Mais tarde, quando Phil toma o seu caminho de redenção, as qualidades do personagem tem de onde aflorar (das sementes de subtexto que ele plantou) e Murray mantém uma pontinha de cinismo, garantindo a continuidade e credibilidade do personagem. Excelente trabalho!

Enfim, um Filme que pode ser apreciado superficialmente como uma divertida comédia, ou que pode trazer uma simples e verdadeira lição de vida se o espectador estiver disposto a se envolver um pouquinho mais. Uma das melhores comédias românticas (com um pé no gênero da Fantasia) da história do Cinema Americano.

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ELENCO PRINCIPAL:

Bill Murray .... Phil Connors
Andie MacDowell .... Rita
Chris Elliott .... Larry
Stephen Tobolowsky .... Ned Ryerson

DIREÇÃO: Harold Ramis

ESCRITO POR: Danny Rubin (história e roteiro) e Harold Ramis (roteiro)

FOTOGRAFIA: John Bailey

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