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Trama básica: Manitos, um traficante (mexicano) violentíssimo contrata uma advogada (mexicana) terminalmente frustrada com o seu ofício para conseguir: (i) simular a sua morte (ii) realizar uma operação de afirmação do gênero feminino (além de obter toda uma nova existência civil, tornando-se assim a titular protagonista) (iii) acomodar (a parte) sua esposa (mexicana criada na América) e o seu casal de filhos na Suíça (todos três também com nova existência civil). [Fora toda a reestruturação além pátrias da fortuna dos envolvidos.]
Sim, existe potencial aqui. Mas muito pouco é desenvolvido a contento. Explicamos: Apesar da entrada tardia da Netflix na história dessa produção, o longa parece muito um fruto da IA com TDAH da produtora. O filme se move rapidamente por inúmeras subtramas (e até mesmo gêneros) para prender a atenção do espectador de maneira superficial, tocando rasamente nos seus temas potenciais (e de uma forma não muito competente pelo diretor). Uma verdadeira lástima quando reexaminamos a promissora premissa acima.
Outro aspecto que REALMENTE nos pegou de surpresa: o filme é um musical! Ele aposta em números musicais que se apresentam meio sem aviso, com uma estética um tanto quanto de videoclipe, com muitas partes sussurradas ou meramente enunciadas. Essa abordagem não tem consistência e o resultado não é bom. E, quando seus números musicais não funcionam, a apresentação dramática tende no limite a uma desconjuntada máquina de exposição.
Outra problema sério é como o filme apresenta o México e os Mexicanos de maneira exótica e estereotipada como se saídos de uma série ruim da Netflix. O que é uma GIGANTESCA ironia aqui.
[O filme é Francês em pátria e direção, com atrizes americanas, distribuído pela Netflix, falado em espanhol e retrata o México cenograficamente... Recomendamos que o leitor leia sobre o caso análogo do filme Orfeu Negro .]
Saldana é a advogada e é o braço que move a trama (e não nos impressiona muito além disso). Gomez vive a esposa e quanto menos falarmos dela melhor. Gascon interpreta o Manitos e a titular Emília Perez, sendo o centro de interesse emocional do longa. Porém (como tudo aqui), ela é prejudicada pela falta de foco e profundidade.
O roteiro impede um óbvio diálogo entre a Emília e a Esposa (AQUELE MESMO QUE VOCÊ DEVE ESTAR PENSANDO!) que evitaria facilmente a (TOTALMENTE ARTIFICIAL!) tragédia final... Emília assim morta é literalmente santificada em um desfile fúnebre (uma atitude narrativa que parece rir de qualquer esboço de arco redentório que posso estar aqui presente)... As partes não falam entre si enfraquecendo o todo do filme.
(Abundam boatos de uso de ADR turbinado por IA nos números musicais e talvez nos diálogos em geral... Bem os números musicais são fracos com ou sem essa ajuda... Mas, de fato, inúmeros segmentos de diálogos parecem processados eletronicamente... O som desse filme é mesmo um pouco "estranho"...)
(Uma outra informação que passou por aqui foi de que esse tal "software" estaria sendo usado faz pelo menos 18 meses na indústria... Qual será o resultado disso tudo se verdade for? ... Polemizar, desclassificar ou esconder cinicamente?)
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Sim ou Não? Não. Definitivamente não!
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A série TORRONES?(S/N) mostra Luiz Castanheira decidindo se vai agregar um novo filme (que já passou pelo crivo de relevância popular e/ou crítica) a sua exclusiva coleção de Torrones De-li-ci-o-sos!
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