quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

ASTEROID CITY (2023)

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"ASTEROID CITY" de Wes Anderson [105 minutos] [***]


Direto ao Ponto: O filme é um documentário televisivo sobre a criação/produção de uma peça teatral reunido a uma apresentação da peça em si. Tal apresentação aparece em tela como a titular cidadezinha do deserto americano, quase tão estilizada quanto a do filme Barbie (2023) e que parece formada por um aglomerado de ficção científica cinquentista: jovens prodígios, generais, cientistas, alienígenas, armas nucleares, comunistas, casais se apaixonando etc. Tal premissa é INEVITAVELMENTE metalinguística (inclusive o diretor utiliza diferentes razões de aspecto e estilos de fotografia para identificar o nível de realidade em questão) e o IMENSO elenco (em grande parte) faz trabalho dobrado, com atores vivendo o seu personagem e o ator que faz o seu personagem dentro da peça (!?). O que torna o filme bastante fragmentado e desfocado emocionalmente (com caracterizações muito finas para a grande maioria dos numerosos personagens)... O ator Jason Schwartzman (uma espécie de alter ego do diretor) vive o protagonista (o fotojornalista de guerra) Augie Steenbeck (e o seu ator dentro da peça: Jones Hall) lidando com a perda da esposa (ao mesmo tempo que Hall lida com a perda do seu amante, o dramaturgo que escreveu a peça)... O coração do filme é o tratamento do luto de ambos (juntos e misturados)... O inusitado clímax do filme envolve uma cena com Margot Robbie interpretando a atriz que interpretou a falecida esposa de Steenbeck (e que teve o papel cortado por tempo) (!?).

Augie informa os 4 filhos da morte da mãe deles

Sobre a Teoria de Autor: Obviamente estamos assistindo a um filme de Wes Anderson, com as suas costumeiras assinaturas visuais: característica ultra estilização artificial de tudo que vai em tela, direção de arte excepcional (pensada até os últimos detalhes) e composições lindíssimas que abusam das simetrias (lembrando que simetria não se resume a um objeto cênico centralizado no quadro). E ainda, como de hábito, as atuações ficam sempre em um estreito intervalo de dinâmica emocional centrado na impassividade (curiosamente Tom Hanks não parece funcionar tão bem dentro desses parâmetros, algo um tanto inexplicável para este escriba)... Talvez os múltiplos níveis de realidade e o uso excessivo de intertítulos (mesmo para os padrões do diretor) desafiem até mesmo os fãs de longa data do realizador (uma imersão na narrativa aqui é deveras difícil, o que é obviamente intencional e talvez objetive que as ideias do filme sejam discutidas e não o filme em si).
 
"Augie" encontra a "falecida esposa"

Na Casca da Castanha: Mais um filme belo e indulgente de Anderson que não vai criar novos fãs e vai testar a paciência dos seus já convertidos. Felizmente existe pelo menos um eixo dramático de apoio ao espectador que se resolve de maneira satisfatória (ainda que seja mais complexo do que emocionante no fim das contas)... Android City parece ter berço na nostalgia do autor mas o material que circunda tal eixo não oferece o páthos que poderíamos esperar.

"Augie" encontra o "alienígena"
 
Citação:

    [behind the scenes of the play]

    The Alien:  I don't play him as an alien, actually. I play him as a metaphor. That's my interpretation.

    Augie Steenbeck: Metaphor for what?

    The Alien: I don't know yet. We don't pin it down.

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