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(1974) Rush [**]
(1975) Fly By Night [***]
(1975) Caress Of Steel [***]
(1976) 2112 [****]
(1976) All The World's A Stage - LIVE 76 [****]
(1977) A Farewell To Kings [****]
(1978) Hemispheres [****]
(1980) Permanent Waves [****]
(1981) Moving Pictures [****]
(1981) Exit... Stage Left - LIVE 80+81 [****]
(1982) Signals [***1/2]
(1984) Grace Under Pressure [**1/2]
(1985) Power Windows [**1/2]
(1987) Hold Your Fire [**]
(1989) A Show Of Hands - LIVE 86+88 [***]
(1989) Presto [**]
(1991) Roll The Bones [**]
(1993) Counterparts [***]
(1996) Test For Echo [**]
(1998) Different Stages - LIVE 78+94+97 [****]
(2002) Vapor Trails [**1/2]
(2007) Snakes & Arrows [***]
(2012) Clockwork Angels [****]
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Voz, Baixo e Teclado: Geddy Lee.
Guitarra: Alex Lifeson.
Bateria: Neil Peart (02 Fly By Night - 23 Clockwork Angels) , John Rutsey (01 Rush).
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Claro! Vamos explorar a era de ouro inicial do Rush, um período de evolução artística vertiginosa que os transformou de mais uma banda de hard rock em um dos grupos mais progressivos, técnicos e admirados do mundo. A presença do produtor Terry Brown foi, sem dúvida, o catalisador que permitiu que essa transformação acontecesse.
### **O "Quarto Membro": Terry Brown ("Broon")**
Antes de mergulharmos nos álbuns, é crucial entender o papel de **Terry Brown**. Produtor e engenheiro de som, Brown foi muito mais do que um simples técnico. Ele foi:
* **Um Arranjador:** Contribuía com ideias para estruturas de músicas, harmonias vocais e camadas de instrumentos.
* **Um Mentor Musical:** Introduziu a banda a artistas progressivos como Yes e Genesis, expandindo seus horizontes musicais.
* **Um "Ouvido" Crítico:** Funcionava como um filtro objetivo para as complexas ideias do trio, ajudando a moldá-las em composições coesas.
* **Um Criador de Atmosferas:** Sua expertise em engenharia de som foi fundamental para criar a sonoridade clássica do Rush desse período – limpa, poderosa e cheia de texturas.
A assinatura "Produced by Rush and Terry Brown" era uma admissão tácita de sua importância vital para o som da banda. Sua saída em 1982 marcou o fim de uma era definitiva.
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### **Análise Álbum a Álbum (1974-1982)**
#### **1. Rush (1974)**
* **Contexto:** Álbum de estreia, ainda com John Rutsey na bateria. Financeiramente, um fracasso inicial.
* **Som:** Hard rock cru, pesado e bluesy, muito influenciado por Led Zeppelin. A voz de Geddy Lee é extremamente aguda e gritada.
* **Destaques:** "Working Man" se tornou um hino não intencional da classe trabalhadora e, crucialmente, chamou a atenção de rádios de Cleveland, que impulsionaram a carreira da banda. "Finding My Way" é uma abertura energética.
* **Comentário:** Um álbum sólido para sua época, mas que não hintava a grandiosidade que estava por vir. A banda ainda não havia encontrado sua voz única. Terry Brown não estava envolvido (o produtor foi David Stock).
#### **2. Fly by Night (1975)**
* **Contexto:** A grande virada. Neil Peart substitui Rutsey, trazendo consigo uma técnica percussiva revolucionária e, mais importante, as letras. O foco muda de "rock and roll" para conceitos filosóficos e literários.
* **Som:** Ainda enraizado no hard rock, mas com ambições maiores. As músicas são mais longas e complexas.
* **Destaques:** A épica "By-Tor & the Snow Dog" é a primeira incursão na música narrativa e prog. "Anthem" (inspirada em Ayn Rand) e a cativante "Fly by Night" definem o novo caminho.
* **Comentário:** O álbum de estreia do *verdadeiro* Rush. A química do power trio com Peart é instantânea. Terry Brown assume a produção e imediatamente impõe um padrão de clareza sonora.
#### **3. Caress of Steel (1975)**
* **Contexto:** O "álbum arrogante". A banda, encorajada pela liberdade artística, mergulhou de cabeça no prog, criando duas longas suites.
* **Som:** Experimental, sombrio e desafiador. Um disco de transição que confundiu fãs e a gravadora.
* **Destaques:** "The Fountain of Lamneth" (uma suite de 20 minutos sobre a vida) e "The Necromancer" (fantasia épica em três partes) são ambiciosas, mas talvez não totalmente realizadas. "Lakeside Park" é um respiro mais acessível.
* **Comentário:** Um fracasso comercial que quase lhes custou a carreira, mas um passo *necessário*. Eles aprenderam a equilibrar ambição e coesão. Brown os apoiou incondicionalmente nesta empreitada arriscada.
#### **4. 2112 (1976)**
* **Contexto:** O "all-or-nothing". A gravadora deu-lhes uma última chance. A resposta foi uma obra-prima que definiu sua carreira.
* **Som:** A fusão perfeita do poder do hard rock com a complexidade do rock progressivo. Monumental, dramático e incrivelmente bem executado.
* **Destaques:** A suite-título "2112" (20 minutos) é uma narrativa distópica anti-autoritária inspirada em Ayn Rand, tornando-se a pedra angular de seu catálogo. O Lado B tem pérolas como "A Passage to Bangkok" e "The Twilight Zone".
* **Comentário:** Não foi apenas um sucesso; foi uma declaração de princípios. Salvou a banda e conquistou uma legião de fãs devotos. A produção de Brown é impecável, dando a cada instrumento seu espaço no vasto panorama sonoro.
#### **5. A Farewell to Kings (1977)**
* **Contexto:** Com a liberdade conquistada, o Rush refinou sua fórmula, incorporando novos instrumentos e texturas.
* **Som:** Mais atmosférico e melódico. Introdução prominente de sintetizadores (Minimoog), guitarra acústica de 12 cordas e até mesmo um pouco de sintetizador bass pedals (pedais de baixo sintetizado).
* **Destaques:** "Xanadu" (uma jornada de 11 minutos baseada no poema *Kubla Khan*) é uma masterclass em dinâmica e virtuosismo. "Closer to the Heart" mostrou que eles podiam escrever hits prog. "Cygnus X-1" inicia uma saga que continuaria no próximo álbum.
* **Comentário:** A maturação do som. Brown é essencial aqui, integrando os novos elementos de forma orgânica, sem perder o peso do power trio.
#### **6. Hemispheres (1978)**
* **Contexto:** O ápice da complexidade progressiva do Rush. Um álbum desafiador, até mesmo para eles.
* **Som:** Denso, técnico, complexo e exaustivo. A produção de Brown atinge seu pico de clareza, permitindo que cada nota intricada seja ouvida.
* **Destaques:** A suite-título "Hemispheres" (18 min) é uma conclusão filosófica e musicalmente intensa para "Cygnus X-1". "La Villa Strangiato" é uma "exercício de auto-indulgência" instrumental de 9 minutos que se tornou uma das músicas mais técnicas já gravadas no rock.
* **Comentário:** Um marco técnico, mas também o fim de uma linha. A banda percebeu que não podia levar esse estilo ao extremo sem se repetir. Foi o último álbum totalmente "épico".
#### **7. Permanent Waves (1980)**
* **Contexto:** A grande transição. O Rush abraça a concisão e a nova onda do rock sem abandonar sua essência progressiva.
* **Som:** Mais enxuto, direto e focado em canções. Os sintetizadores tornam-se mais integrais à composição, não apenas para efeitos.
* **Destaques:** "The Spirit of Radio" (um hino à pureza do rádio) é uma das maiores aberturas de todos os tempos, perfeita em sua fusão de energia new wave e mudanças de tempo prog. "Freewill" é outro clássico instantâneo. "Natural Science" (9 min) prova que eles ainda podiam fazer epics, mas mais condensadas.
* **Comentário:** Um álbum revolucionário. Mostrou que era possível ser progressivo, inteligente e acessível. A produção de Brown é moderna e radiofônica, perfeita para a nova direção.
#### **8. Moving Pictures (1981)**
* **Contexto:** A obra-prima absoluta. O equilíbrio perfeito entre o prog do passado e o novo wave do presente. Sucesso de crítica e público.
* **Som:** Imediato, poderoso e icônico. Cada música é um single em potencial disfarçado de complexidade musical.
* **Destaques:** "Tom Sawyer" (a música definitiva do Rush), "YYZ" (a *outra* música instrumental definitiva), "Limelight" (uma reflexão profunda sobre a fama), "Red Barchetta" (uma narrativa cinematográfica). Um lado A perfeito e impecável.
* **Comentário:** O pináculo da carreira da banda e o auge da colaboração com Terry Brown. A produção é tão cristalina e poderosa que se tornou uma referência para engenheiros de som até hoje. Um álbum sem uma nota fora do lugar.
#### **9. Exit... Stage Left (Álbum Ao Vivo - 1981)**
* **Contexto:** Documenta o auge da turnê *Moving Pictures* e *Permanent Waves*.
* **Som:** Considerado por muitos como um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. A performance é impecável, quase de estúdio, mas com a energia da multidão.
* **Destaques:** Versões definitivas de "Xanadu", "The Spirit of Radio", "Jacobs Ladder" e uma transição sublime entre "YYZ" e "Hemispheres: Prelude".
* **Comentário:** A celebração de uma era. É o testamento do poder ao vivo do trio e do catálogo incrível que construíram com Brown até aquele ponto.
#### **10. Signals (1982)**
* **Contexto:** O fim da era Terry Brown. Uma mudança sísmica no som, colocando os sintetizadores de Geddy Lee em posição de destaque, muitas vezes à frente da guitarra de Alex Lifeson.
* **Som:** Atmosférico, orientado por teclados e influenciado pelo new wave, reggae e world music. Um choque para muitos fãs.
* **Destaques:** "Subdivisions" (um hino adolescente sobre alienação suburbana) é um clássico instantâneo. "The Analog Kid" e "Digital Man" continuam a explorar o tema da tecnologia vs. humanidade.
* **Comentário:** Um álbum brilhante, mas que marca um ponto de divisão. A banda sentiu a necessidade de evoluir além da zona de conforto que haviam criado com Brown. Após este disco, a parceria de 10 anos chegou ao fim, encerrando a primeira e mais definidora era do Rush.
### **Conclusão**
O período de 1974 a 1982 foi uma jornada incomparável de evolução musical: do hard rock básico ao ápice do rock progressivo e, finalmente, para uma forma única e concisa de art rock. **Terry Brown** foi o arquiteto sonoro fundamental dessa jornada. Sua capacidade de capturar a técnica bru tal do trio enquanto expandia seu universo musical com novas ideias e texturas foi inestimável. Ele foi, em todos os sentidos criativos, o quarto membro que ajudou a forjar a identidade do Rush clássico, tornando seus álbuns não apenas coleções de músicas, mas experiências sonoras imersivas e atemporais.
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